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2011 – março, 23 – Manifesto em defesa da mudança de nome Ruados Andradas para Rua da Praia.

Manifesto Rua da Praia


O presente movimento busca um profundo resgate. O da valorização da manifestação popular. Buscamos, com um movimento criado por cidadãos de Porto Alegre recuperar, agora, de forma oficial, o nome RUA DA PRAIA para, senão a mais importante e significativa via de nossa cidade, àquela que está mais presente na mente dos munícipes da Capital dos gaúchos.


Para isso, recuperamos abaixo alguns momentos importantes da história e cultura que, ao longo dos anos se refere à Rua da Praia. Da mesma forma, com isto, justificamos nosso desejo de termos o batismo oficializado, a exemplo de tantas outras vias de Porto Alegre. Em sua obra, após uma descrição da oficial Rua dos Andradas, o historiador Sérgio da Costa Franco, assim se refere: “Na toponímia antiga, da extremidade ocidental da península até a atual Rua General Câmara, a Rua dos Andradas denominava-se "da Praia"; daquele ponto para cima, "Rua da Graça". O cronista Pereira Coruja, em suas Antigualhas, registra que "0 povo não engraçou com o nome de “Rua da Graça", terminando por generalizar a da Praia, em toda a sua extensão. Nas escrituras dos tabelionatos e nos papeis da Câmara Municipal, falase em Rua da Graça pelo menos ate o final da Revolução Farroupilha. Assim, chegamos a uma curiosa conclusão, a de que aquela que é consagrada no imaginário popular que ultrapassa, certamente, a mais de dois séculos, todos os obstáculos legais para ser soberana na mente e corações dos porto-alegrenses, na verdade, oficialmente, nunca se chamou Rua da Praia.


E é exatamente por isso, e sem qualquer demérito à família dos Andradas, que emprestou em determinado momento, no aniversário da independência do Brasil, pelo requerimento dos vereadores Francisco José Barretto, João Carlos Bordinie Felisberto Antônio de Barcelos, nos idos 1865, que agora, por justiça à vontade popular, requeremos que a denominação oficial, seja Rua da Praia.


Quem conhece fora de nossa cidade a Rua dos Andradas? Ao contrário, muitos já ouviram falar na Rua da Praia, local de encontros, diversão, negócios, onde circulam diariamente milhares de pessoas. Quem, não se utilizou da frase: estou indo ao centro, na Rua da Praia pagar uma conta, ou fazer umas compras, ou ir à Casa de Cultura Mário Quintana, na Praça da Alfândega, que anualmente abriga a Feira do Livro.


Em 2011 completam-se 146 anos desde que a denominação de Andradas foi oficializada - e, mesmo assim, a Rua da Praia sobreviveu incólume, soberana, na mente dos porto-alegrenses e gaúchos, sendo assim a referência para turistas que aqui chegam. Pois bem, é então contraditória essa situação. Quem se acorre dos guias de endereços provavelmente não compreende essa ausência. A procura incessante pode, até, causar confusão.


E para comprovar essa linha de raciocínio, que nos socorremos de muitos intelectuais, escritores, poetas, jornalistas, artistas. Rafael Guimarães em seu magnifico livro Rua da Praia – Um passeio no Tempo, Editora Libretos, se refere ao nome dessa forma: “Em 1843, quando as vias recebem suas primeiras placas, tudo passa a ser Rua da Praia, em 1865, num arroubo patriótico, a Câmara aprova o novo nome, Rua dos Andradas, em homenagem a José Bonifácio, o “Patriarca da Independência” e seus irmãos. Para o povo, no entanto, ela será sempre Rua da Praia. E para os críticos ao resgate da Rua da Praia e defensores da homenagem aos Andradas, respondemos com a existência da já denominada Avenida José Bonifácio, uma importante via da cidade, no bairro Bom Fim, um dos mais tradicionais da cidade, que homenageia o “Patriarca da Independência”.


José Cândido Gomes, que, sob o pseudônimo de "O Estudante", publicava crônicas semanais no jornal Mercantil a partir de 1852, já glosava as particularidades e singularidades da Rua da Praia. Zeferino Brazil, Aquiles Porto Alegre e quase todos os cronistas da cidade Ihe dedicaram cronicas. Érico Veríssimo ali situou vários episódios de seus romances. Nilo Ruschellhe dedicou um livro especifico, e Renato Maciel de Sá Júnior publicou três series de Anedotário da Rua da Praia que se transformaram em best-seller.


Pois é a Rua da Praia cantada em versos. Fonte de inspiração, segundo o compositor carioca Tito Madi que canta a Rua dessa forma: Rua da Praia, Eu vim para procurar minha saudade, Pra ver se encontro na verdade, Aquela que vivi........


Já João Palmeiro e Ivaldo Roque em Outubro 18h dizem, Vou pela calçada, Porto Alegre à tarde, Quase ao anoitecer, Os cinemas chamam para ver, As vitrines vão acender, Gente com pressa, Ora para quê, Vou atravessando a Rua da Praia despreocupado. E o grande sucesso, porém, foi de Alberto do Canto em Rua da Praia: Rua da Praia que não tem praia, que não tem rio, Onde as sereias andam de saias e não de maiô. Rua da Praia do jornaleiro, do camelô, Do Estudante que a aula da tarde gazeou.....


Não menos do que o nosso imortal Moacir Scliar, em histórias de Porto Alegre, Editora LPM, cita alguns personagens da Rua Praia, e vai adiante quando diz que “A Rua da Praia, sempre foi o coração de Porto Alegre”. Assim como Luís Fernando Veríssimo, no Traçando Porto Alegre, Editora Arte e Oficio, também sucesso editorial, refere Porto Alegre, como a Mal entendida, “A rua principal da cidade não existe. Você rodará toda a cidade à procura da Rua da Praia e não a encontrará”... “Finalmente, desconfiado de que a Rua Principal só pode ser aquela que concentra a maior parte do tráfego de pedestres no centro, você consultará a placa e lerá “Rua dos Andradas”. Mas ninguém a chama de Rua dos Andradas, chamam pelo nome antigo de Rua da Praia”.


Portanto, o nome Rua da Praia, é mais significante para nossa população, já que é a voz do povo, aqueles que são os legítimos donos dessa cidade, que estão acima de governos, partidos políticos, famílias tradicionais ou não, está além, até mesmo do sentido poético, pois é parte petrificada no cerne da nossa cultura popular. É dessa maneira que propomos, ao comemorarmos os 239 anos de Porto Alegre, que lançamos esse movimento a fim de corrigir o que entendemos ser uma falha cometida há quase 146 anos, que se colocou na contramão da vontade dos cidadãos e denominou a principal rua da cidade com um nome que, na verdade, não a representa até hoje. Devolvamos ao povo aquilo que ele consagrou, a Rua da Praia.


NOTA – Creio que a melhor sugestão é colocar logo abaixo da placa: Antiga Rua da Praia.

POA 23 março 2011 - www.previdi.com.br



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