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cronoletes

Não contaram a eles que CD está acabando

2009 – Um turista acidental registra suas impressões


De volta à música, Porto Alegre tem outro recorde: o número de lojas de discos. As lojas de disco estão sumindo, com as compras e os downloads via internet, os tocadores de MP3, as livrarias megastore e a imbecilidade das gravadoras, mas ainda não disseram isso para os porto-alegrenses. Numa galeria bem no Centrinho, que liga a Rua da Praia à Sete de Setembro (ou seria à Siqueira Campos? bem, oficialmente o endereço é Rua dos Andradas, 1444), tem uma loja de disco junto da outra. Numa delas, onde quem atende é um hippão envelhecido e com cara de quem já fumou todos, há uma imensa variedade de CDs importados – estão lá todos os da Joan Baez na fase Vanguard, a primeira, dos anos 60 – e também dos novos LPs bilionários, perto de 200 reais a peça, de não sei quantas gramas de peso. Vi vários do Dylan, em nova edição para a tribo dos neo-elepeístas pós-CD como o Pedro da Lu Fernandes.

Chegamos a essa galeria por mero acaso, durante um dos vários passeios pelo Centrinho. Depois vi, em um desses guias que os hotéis distribuem (um chamado Programa Rio Grande do Sul, 3 reais o exemplar), um anunciozinho e um textinho picareta falando da “Chaves, a galeria do CD”: tem a Via Imports CDs, “especializada em CDs importados”, a Sala dos Clássicos, “uma das melhores do gênero no país”, e a Sinthonia Musycal, “cartas, tarôs, astrologia e reike com hora marcada, artigos esotéricos, CDs e DVDs”.

(Que diabo será reike?)

A loja do Cine Guion* do Centro Nova Olaria tem uma variedade absurda de CDs de trilhas sonoras; tem de tudo um pouco, mas a especialidade é trilha sonora; achei e comprei um Ennio Morricone ao vivo que nunca tinha visto e, outra surpresa, a trilha do Vestida para Matar, do Pino Donaggio. É uma edição americana meio antiga; dentro da capinha-encarte bem vagabundinha, de 4 folhas, uma delas ocupada por uma foto de impressão ruim não da Angie Dickinson, e sim da Nancy Allen, há a informação – coisa de que eu jamais tinha ouvido falar – de que se trata de um CD de “edição limitada, não disponível em todas as lojas”: “Varèse Sarabande está se propondo a lançar um clube de CDs para atender a pedidos feitos via correio, devotado a fazer discos de edição limitada de grandes trilhas sonoras. Esses CDs só estarão disponíveis para membros do clube. Se você estiver interessado em receber informações sobre o Varèse Sarabande CD Club, escreva para…”

Vivendo e aprendendo.


*fechou em 2021

Na Avenida Borges de Medeiros, embaixo dos arcos* – lugar muito bonito, e diferente de tudo o que conheço de cidade grande –, e mesmo depois do viaduto dos arcos, o Otávio Rocha, há diversas lojinhas, sebos de CDs e LPs, LPs dos antigões, tradicionais, pré-CD. Numa delas, que o senhor que atendia dizia ser a melhor loja de Porto Alegre com música para a nossa geração, achei uma caixinha chique da CBS, série Masterworks, o selo de música erudita da gravadora, da Ópera dos Três Vinténs, da dupla Brecht-Weill; a gravação é de 1958, com Lotte Lenya, a senhora Kurt Weill em pessoa, no papel de Jenny, e a edição é holandesa, de 1982; o encarte tem 96 páginas, traz notas imensas e todas as letras e é trilingue – alemão, inglês, francês. Pertenceu a alguém que estudou as letras, fez diversas anotações no encarte. Paguei 10 reais pela preciosidade.


*pistilos, Poa ainda tem vários. Além da Borges, na Travessa Francisco Leonardo Truda, na Riachuelo etc.




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