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Porto Alegre, uma fascinante cidade onde não vale o que está escrito

Atualizado: 19 de fev. de 2023

Anotações de um turista acidental na capital daquele estranho país ao Sul de Santa Catarina. Texto de Sérgio Vaz

http://50anosdetextos.com.br/2009/porto-alegre-uma-fascinante-cidade-onde-nao-vale-o-que-esta-escrito/

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Em Porto Alegre, ao contrário de no Brasil do jogo do bicho, não vale o que está escrito. E a maior atração da cidade é – como dizem a respeito da macheza da gente daquele estranho país ao Sul de Santa Catarina – uma ficção. Ou, no mínimo, uma gigantesca dúvida.

Não vale o que está escrito. As placas e os mapas dizem Rua dos Andradas, mas na verdade ali é a Rua da Praia – e não há praia alguma por perto. Está escrito Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, mas o povo fala Parque Harmonia. Oficialmente, é Parque Moinhos de Vento, mas o que vale é o nome de Parcão. O Parque Farroupilha só é Farroupilha nas placas e mapas, porque de fato ali fica o Parque Redenção. Na Rua da República, há o Armazém da Esquina – que fica não numa esquina, e sim bem no meio de uma quadra.


Ficção, ou gigantesca dúvida. A grande atração da cidade, uma beleza danada, o Rio Guaíba, famosíssimo, cantado em prosa e verso, até porque aquele povo escreve muito, e escreve bem, não chega a ser um rio. Parece mais um lago. Passa, atualmente, por uma séria crise de identidade. A moça cuja voz gravada sai dos alto-falantes do Cisne Branco, o belo barco que faz passeio naquelas águas às vezes barrentas, às vezes escuras, às vezes azuis, abre a discussão: informa que o Guaíba sempre foi chamado de rio, mas os especialistas dizem que é um lago. O guia do ônibus de dois andares sem teto em cima – como os de Paris – também lança o questionamento. E o mapa oficial distribuído pela Secretaria Municipal de Turismo crava: Lago Guaíba.

Só que não é bem um lago, já que as águas andam do Delta do Jacuí, ao Norte, em direção à Lagoa dos Patos, ao Sul.

Vai entender.



E a mais recente atração da cidade, o prédio da Fundação Iberê Camargo, debruçado numa elevação sobre a beleza do Guaíba, com uma vista espetacular para os prédios da cidade ao longe, como se fosse um morro em Sausalito de onde se vê a silhueta deslumbrante de San Francisco do outro lado da baía, é um horroroso, grotesco caixote de concreto pintado de branco, com apenas umas três minúsculas janelinhas, mais parecidas com vidros de aquário, dando para aquela imensidão toda.

Mas que não se pense que as constatações acima são uma crítica à cidade. Porto Alegre é uma cidade belíssima, calorosa, agradável, apaixonante.


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