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2011 – A “Fischermania”

A culpa é do Fischer

Marcelo Carneiro da Cunha - 15.11.2011 – www.sul HYPERLINK "http://www.sul21.com.br/"21 HYPERLINK "http://www.sul21.com.br/".com.br


Pois quem transita pelos meios acadêmico-culturais de Porto Alegre talvez conheça a expressão “fischerpresença”. O criador da expressão é desconhecido, como quase tudo que vale a pena a gente citar nesse mundo, mas ela descreve bem a sensação de quem se acostumou a sempre – mais do que sempre, porque isso seria algo apenas onipresente, – dar de cara com alguma das formas assumidas pelo Luis Augusto Fischer.


Exemplos concretos de fischerpresença? Lembram dos encontros no Centro Cultural Renascença, lá no começo dos anos 90, que provaram a possibilidade de reunir escritores e enormes platéias em plenas manhãs de sábado?


E quem classificou as formas e processos de produção da literatura feita no RS, denominando a atual de “literatura de apartamento alugado”, descrevendo brilhantemente a classe que tinha se tornado hegemônica na produção literária daqui? E também aproveitou para escrever que estávamos produzindo, “muita literatura mediana”, de novo acertando em cheio?


Quem combateu todo o poder financeiro, político e cultural paulista e seu plano de dominação global nos artigos intitulados “Contra São Paulo”, que renderam um saboroso debate com Marcelo Coelho na Folha de São Paulo, provavelmente o único e último ocorrido entre um intelectual de primeira linha nosso e um veículo de primeira linha deles?


Quem faz do Sarau Elétrico o ambiente com tal amplitude intelectual que nos seus bons dias vira a melhor coisa que acontece em Porto Alegre? Ah, o Dicionário de Porto-Alegrês?


Tudo isso, e mais várias coisas, são culpa do Fischer. E, no entanto, ele é mais culpado do que isso. Ele é culpado por, praticamente sozinho, ter criado a solução que vai tirar a humanidade da armadilha demográfica em que ela se enfiou nas últimas décadas.


Pois que um problema do mundo, em um mundo que quase não os tem, é que as pessoas pararam de querer ter filhos, pelo menos mais do que dois. Isso também significa que a gente, basicamente, vai virar panda e sem o benefício dos brotinhos de bambu.


Todos sabem que, ou as mulheres têm, em média, 2,1 filhos, ou babaus, passamos para o ponto abaixo da linha de reposição. A linha de reposição é aquela que garante que cada mulher terá o número suficiente de filhos para repor os pai e mãe que ele vem substituir, mais 0,1 para dar uma sobrinha, o que sempre é bom quando o assunto é demografia. Há algum tempo, até mesmo o Brasil passou para baixo da linha de reposição, o que também significa que, caso a música nativista não acabe com a nossa raça antes, a falta de peças de reposição acaba.


Acabaria, porque então veio o Fischer para resolver mais essa parada. Ele, sozinho, está convencendo um enorme número de homens na segunda idade, aquela acima dos 45 e antes de que algo grave aconteça, a terem filhos. Todo um exército de reserva, até então desconectado desse grave drama global está sendo convocada para contribuir com muita experiência e animação, mesmo que com alguma dificuldade com excessos lombares, a evitar o desaparecimento da humanidade. Missão e tanto, e à qual estão respondendo com um “Sir, yes, sir” devido, exclusivamente, ao exemplo fischeriano.


Fischer nos provou com sobra, primeiro com o Benjamim, depois com a Dora, que sim, era possível, yes, we can, e bem antes do Obama se aproveitar de mais esse fischerismo.


Pais na faixa dos cinquenta trazem tantas vantagens que é um espanto que isso não tenha sido pensando antes. Bom, até o século 19 a gente morria muito cedo, pode ter sido por isso, quem sabe. Mas hoje não, graças à ciência a gente vai firme, ou mais ou menos, até bem depois dos 80, indo de van ver peças de atores globais e nos sentindo ótimos. Se isso pode, filho também pode.


Pais na faixa dos cinquenta ouviram os Beatles, Pink Floyd e Chico no original, fresquinhos. Bebês desses pais jamais irão ser submetidos a tranqueiras como Legião Urbana ou, horror, Los Hermanos. Essas crianças jamais irão parar no SOE por motivos de más influências musicais. Melhor, eles não vão saber o que é um SOE.


Nessa idade, esses homens já passaram por tudo o que existe e, portanto, compreendem as mulheres e seus jeitos incompreensíveis. Não se metem em brigas sem solução, acertam o tempo e o tamanho dos problemas. Jamais explodem, o que também pode ser por falta de energia. De qualquer maneira, jamais explodem, e nada é melhor para um bebê do que estabilidade. Homens na faixa dos 50 são especialistas em estabilidade, ou não teriam chegado tão longe.


Essa classe inteira, por bom-senso ou falta de oportunidade, permaneceu assim, intacta e sem filhos por tempo demais e o Fischer veio para acabar com mais esse mito.


Os exemplos de homens que estão aderindo à causa são demasiados para que eu os mencione aqui, mas as hordas crescem. Eu mesmo, olhando para o Manuel aqui ao lado, seis dias de idade e não parecendo especialmente curioso com o ruído das teclas, sou mais uma feliz vítima da influência fischeriana. Conheço muitos outros, e já começo a contaminar alguns.


E nesse exato instante, em que a breve estabilidade é temporariamente rompida e Manuel resolve mostrar quem manda, ou quem chora mais alto – o que quer dizer a mesma coisa -, penso que sei muito bem de quem é a culpa, e em como se faz para agradecer por isso, por afinal estar participando dessa experiência enriquecedora como nenhuma outra.


Ao Fischer, o meu muito obrigado.










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