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cronoletes

Come-se muito, e bem, e barato

2009 – Um turista acidental registra suas impressões


Claro, comida boa e farta é uma das tradições de que os gaúchos mais se orgulham – e em Porto Alegre de fato come-se muito, muito bem, e barato.

Vivi tinha indicado uns 35 lugares para a gente comer, e claro que não deu para ir a todos, mas fomos a vários. Um italiano chiquetérrimo e não absurdamente caro, Peppo Ristorante, em Moinhos de Vento – este não foi indicação da Vivi; gostei do folhetinho deles colocado no hall do hotel. O mais tradicional churrasco para turistas, no sistema espeto corrido, o Galpão Crioulo, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, ou melhor, Harmonia, com show ao vivo de gauchada gauchesca, dezenas de gaúchos de bombacha e gaúchas fantasiadas de gaúchas, som altíssimo – em vez de ficarmos putos, entramos no clima e deu tudo certo.

Mas o melhor lugar de todos, onde fomos na primeira e de novo na última noite, foi o Barranco. Vivi tinha dito que a esse lugar vão os próprios gaúchos, nada de turistas, e é bem verdade. Fica um pouco longe do Centro, no bairro Petrópolis, a quase 6 km da Praça da Matriz (Moinhos de Vento fica a 3 km), fora de qualquer circuito turístico. Ocupa uma área imensa, no meio de árvores gigantescas. Chope excelente, bem tirado, e uma lingüiça caseira que meu Deus do céu e também da terra, o que que é aquilo. Barato: o mesmo preço que pagamos pra comer em lugares sem qualquer charme e comida nada especial em Matinhos, no Paraná. E lotado, lotado de gente da terra. Na primeira noite, a de segunda, dia 16, tinha uma área grande, das várias áreas ao ar livre, reservada para uma festa particular, com famílias inteiras, avós, mães, titias, crianças, bebês de colo – depois vimos que era de uma confraria de produtores de vinho. Segundo o motorista de táxi que nos levou até aquela lonjura da Avenida Protásio Alves (o tal garotão que acha que todas as cidades são iguais, a não ser pela comida) nos disse que tanto o Inter quanto o Grêmio costumam jantar lá, em ocasiões festivas.


Inter e Grêmio. Inter e Grêmio é tema obrigatório em Porto Alegre, claro. Como nas Minas Gerais do Atlético e Cruzeiro, Inter e Grêmio são um duopólio; os outros times são só sparrings, só para preencher tabela e o Gauchão não ser uma infinita seqüência de Gre-Nals. Muito mais do que entre chimangos e maragatos, do que entre brizolistas e antibrizolistas, do que iedistas (4,5% da população, segundo o último Datafolha, incluindo um dos motoristas de táxi que conhecemos) e anti-iedistas (os outros 95,5%), do que petistas e antipetistas, os gaúchos se dividem entre colorados e gremistas. Nas ruas, dezenas e dezenas de neguinhos andam com camisas do Inter, e outras dezenas e dezenas com camisas do Grêmio. Em todos os lugares vendem-se camisas do Inter e do Grêmio, em geral lado a lado: no Shopping da Rua da Praia há duas lojinhas idênticas, seguramente pertencentes aos mesmos donos, uma do lado da outro, uma com tudo possível e imaginável do Inter, a outra com o mesmo tudo possível e imaginável do Grêmio.



Os estádios de Inter e Grêmio ficam não muito distantes um do outro, ambos na região Sul da cidade, ambos com a inscrição Campeão do Mundo bem visível. O guia do ônibus turístico presta muita atenção e muito cuidado para dedicar o mesmo número de palavras e segundos a falar de cada um dos dois times, com o bem fundamentado temor de provocar uma revolta entre gaúchos de um ou do outro lado.

Quando comentei com o Sandro a coisa da crise de identidade do Guaíba, se é rio ou se é lago, ele notou que o problema é de fato muito sério: afinal, o estádio do Inter (Porcão, segundo os gremistas) é o Beira-Rio. Diz ele, no seu texto sempre brilhante:

“Descobri há pouco tempo que o Rio Guaíba é um lago, e isso é muito grave. Pois o estádio do Inter deveria mudar o nome para Beira-Lago? Isso provocaria um terremoto cultural inenarrável. Seria mais ou menos como mudar o nome da Bombonera para, sei lá, Floreira, ou Lixeira.”

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